sábado, 31 de julho de 2010

Tailândia Lá e Cá

Quem gosta muito de culinária asiática e vai à Nova Iorque padece, de início, de uma paralisia de análise. Tailândia, Vietnã, Índia, Paquistão, Camboja, China, Japão, há opções para todos os gostos, e muitas.

Há muitos restaurantes chineses e japoneses em São Paulo (claro que o número não reflete a qualidade), então este blog se decidiu pela busca de restaurantes do sudeste asiático. Auxiliado pelo guia Zagat, o primeiro visitado foi o Ponsgri, pois contava com uma ótima avaliação (24 pontos, dos 30 possíveis).

Um restaurante simples, sem luxo, mas com a faceta típica de restaurante oriental.Cardápio bastante extenso, entre sopas, saladas, aperitivos, especialidades (divididas em especialidades do próprio restaurante, de lagosta, de mexilhões e de peixe), grelhados, pato, peito de frango (sim, ele mesmo, o insosso, com cinco tipos de molho), e, além disso, pratos principais, “autênticos” curries tailandeses, pratos vegetarianos, noodles, uma parte para arrozes fritos e, por fim, acompanhamentos.

Comentei com o garçom, tailandês (assim como todos os trabalhadores do lugar, pelo que vi), que falava um inglês carregadíssimo no sotaque, que em São Paulo, uma cidade com vinte milhões de habitantes, havia no máximo uns cinco restaurantes tailandeses, e ele ficou espantado, dizendo-me que “só nesses dez quarteirões” (não sei se de raio, para cima ou para baixo) havia vinte restaurantes tailandeses). Saindo dali, ele imediatamente foi à senhora do caixa e comunicou-a disso, espantado, pelo que pude ver, e a reação dela também foi de espanto (quem sabe, novos tailandeses em São Paulo seria uma felicidade).

Para começar, Tom Yum Goong, uma sopa de camarão com “thai herbs”, cogumelos, limão, erva-cidreira e coentro (U$ 3.95). Sensacional. Claro que, apesar de não mencionado na descrição constante do cardápio, havia uma pimenta vermelha.




A primeira coisa que me veio à cabeça foi que o equilíbrio entre o doce e o apimentado era completamente diferente de toda a comida tailandesa que eu havia provado no Brasil (aqui, menos doce e menos apimentado).

Em face dessa surpresa e buscando um padrão de comparação, procurei um prato que eu já conhecesse (e, por sinal, uma obssessão pessoal desse blog) o Phad Thai. E devo confessar, não estava bonito.






Porém, estava ótimo. Os brotos de feijão, quase crus, crocantes. Novamente, o equilíbrio doce-salgado num grau elevado. O ponto do macarrão e dos ovos ligeiramente mais tostado do que os que eu havia comido. E, digno de nota, camarões maiores e em maior quantidade dos que nos tailandeses daqui, e por um preço que não se encontra aqui (U$ 10.95).

Para acompanhar, um vinho branco californiano, Beringer, Sauvignon Blanc 2007 (http://www.beringer.com/BeringerSauvignonBlancNapaValley). Razoável.



A refeição suscitou reflexão. O que acontece com muitos restaurantes orientais em São Paulo, que servem um arremedo de comida típica ou comida típica adaptada demais ao paladar nacional? E, no caso dos tailandeses, por preços por demais elevados.

Enquanto o Tibete é o locus amenus da espiritualidade ocidental, a culinária tailandesa é o padrão exótico do paladar ocidental,lembrando o professor Carlos Alberto Dória (http://ebocalivre.blogspot.com/2009/07/tailandia-expansao-da-imaginacao.html), do ebocalivre. O sudeste asiático é “Thai”, e muitos restaurantes acabam por resvalar num “pan-asiatismo”, que por óbvio muitas vezes se perde. Lembram-se do East? Começou razoavelmente bem, mas tempos depois a única lembrança que sobrou da mistura Japão-Coréia-China-Camboja-Tailândia era de um infantil algodão doce servido como sobremesa, além de drinques carregados em xarope de lichia (e da conta salgada, mas não tão salgada como um traumático bul go gui – o churrasco coreano – lá provado).

Este blog, infelizmente, nunca esteve na Tailândia e não tem planos de ir para lá em breve. Mas temos uma boa noção do que o que se serve aqui está longe do ideal. O Thai Gardens é bom, mas falta algo. O Nam Thai, do chef David Zisman, começou com um bom trabalho, mas fechou, reabriu chamando-se Ban Kao (ainda não o visitamos), mas também rendeu-se ao pan-asiatismo (com o inevitável balcão de sushis). Será que o paladar do paulistano, que vem sendo educado e ampliado nos últimos vinte anos, não está pronto para uma comida tailandesa autêntica (e que não custe, com um vinho, cem reais per capita)? Acho que está, mas isto ainda é uma obra por fazer.

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