domingo, 3 de maio de 2009

Kinoshita

Reportagem especial do mês de abril do blog, a tão aguardada visita ao novo Kinoshita, na Vila Nova Conceição. Este blog já havia ido algumas vezes ao Kinoshita quando ele ainda ficava na Liberdade, na Rua da Glória, e naquela época já o tínhamos, assim como muitos, como um dos melhores - e de preço mais salgado, acresça-se - restaurantes japoneses de São Paulo.
A ambientação tradicional, as "palestras" do Murakami, a atenção dada aos ingredientes orgânicos, o frescor dos ingredientes, o malabarismo para a entrega do temaki, que deve ser comido logo pois, como alegava o Murakami, a alga dele era a mais crocante da vizinhança.
Assim, tamanha foi a decepção num dia que já vai longínquo quando este blog se dirigiu rumo ao Kinoshita e deu com a cara na porta. Como um restaurante tão bom cerra as portas assim do dia para a noite?
Algum tempo depois viemos a descobrir: o Kinoshita fechou, o Murakami tinha ido ao Japão e o restaurante reabriria na Vila Nova Conceição, onde seria exercida a culinária Kappo, a alta gastronomia japonesa.
Assim, não era pequena a ansiedade para conhecer o novo Kinoshita. As resenhas, na sua maioria favoráveis, o súbito epíteto de Melhor Japonês de São Paulo, um certo medo de que aquilo que o tornava único na Liberdade não conseguisse ser transposto para um lugar que, de certa maneira, é do Bairro Japonês o oposto. Sobriedade, ostentação. Tradição, modernidade. Passaria o Kinoshita incólume a essa transição?
Pois bem, havia chegado a hora, a ansiedade era grande e para lá rumou O Gourmet Incidental, acompanhado de dois fiéis amigos, grandes entusiastas da culinária japonesa.
O serviço é atenciosíssimo - por vezes até demais, como adiante explicaremos -, desde a hora da reserva, passando pela salva de "Irashaimases" até a despedida. Recebidos pela brigada, a reserva estava feita marcada para 21h, adiantamo-nos 15 minutos, então resolvemos conhecer o bar antes do banquete. O bar - assim como o restaurante, é muito bonito, imponente, e de lá saíram corretíssimos dry martinis e bloody marys.
Rumo a mesa, entoa Murakami: "E aí, prontos para se emocionarem?"
Estávamos. Escolhemos o menu de degustação composto por nove pratos (R$ 290,00). Há também opções de menu de degustação de sete ou cinco pratos, além, claro, do serviço a la carte.
Para começar, enquanto o saquê era escolhido, veio o couvert, beringela recheada de kobe beef, empanada em farinha japonesa. As fotos não estão adequadas, em breve este blog solucionará os problemas técnicos de fotografia, mas achamos melhor publicá-las com a resenha.


O Kinoshita conta com uma carta com mais ou menos quinze saquês, todos japoneses.

Primeiro prato, o Hamaguri, um marisco japonês, com manteiga trufada e ovas de salmão. Delicioso, com uma textura levemente mais firme do que o vôngole.

Segundo prato, uma taça, para ser bebida, com uma ostra fresca, ovas de salmão, ovas de ouriço do mar e uma gema de ovo de codorna crua. Sensacional, talvez o melhor prato da noite.
Terceiro prato, o Trio de Frutos do Mar ao Creme de Missô, vieira com a ova, polvo e camarão. O creme de missô é enriquecido com mascarpone e acompanhado de um pequeno de aspargo fresco. O prato não surpreendeu.

Quarto prato, atum selado com foie gras. Depois da leve decepção com o trio de frutos do mar, as expectativas voltaram a subir muito, graças a esse atum e ao ponto perfeito de cozimento do foie gras.

Outro aspecto interessante a ressaltar no Kinoshita é o extremo cuidado na apresentação dos pratos e a impressionante linha de montagem situada atrás do balcão. Uma brigada grande de cozinheiros desempenhando diversas funções e os pratos finalizados um a um, cuidadosamente.
Quinto prato, o camarão empanado em farinha japonesa acompanhado de um molho de maçã verde e de uma mostarda japonesa chamada Karashi. Muito bom.

Infelizmente, talvez motivados pela segunda garrafa de saquê, não obtivemos a foto do sexto serviço, os sashimis. Segundo nos informaram, há dois tipos de shoyu, feitos no próprio restaurante e orgânicos. Foram servidas fatias de atum (o normal, não o toro), salmão e robalo. Os peixes estavam fresquíssimos, o corte perfeito. Solicitamos a raiz forte fresca (não só a pasta verde, são inclusive vegetais diferentes), fomos prontamente atendidos.
Entretanto, tivemos aqui uma decepção. A ansiedade em provar as iguarias era alta, mas, de todos os sashimis diferenciados constantes do cardápio, no menu de degustação somente foram servidos os "ordinários" salmão, atum e robalo.
Sétimo prato, os sushis. Murakami vem à mesa nos explicar a qualidade do arroz, a delicadeza do sushi, e nos sugere sejam os sushis degustados com a mão, para que possamos molhar o peixe no shoyu sem que ele se quebre.
Realmente o arroz é um diferencial importante. Ele é leve, delicado, e forma um todo coeso com sua cobertura, como se uma coisa só fossem. Foram servidos sushis de atum, salmão, robalo, omelete com ovas de bacalhau apimentadas e viera. Apesar da não grande variedade, como no caso dos sashimis, estávam ótimos.

Por fim, o oitavo prato, o kobe beef, de gado wagyu 100% nacional, acompanhado de molho ponzu e nabo e pimenta ralados. Delicioso, a gordura entremeada na carne, que derretia na boca.

Por fim, as sobremesas. A primeira, um sorvete de chá verde acompanhado de um doce de arroz recheado com chocolate.
A segunda, da qual também não obtivemos foto, era uma lichia recheada com ganache de chocolate branco, acompanhada de um bolo de chocolate com castanhas-do-pará, feito sem farinha. As sobremesas foram corretas mas não surpreendentes.

Estava conhecido o Kinoshita. Durante o jantar o Murakami passou mais algumas vezes pela mesa, falou conosco com seu jeito que já foi incorporado à mítica do lugar. "E aí, estão gostando? Mudamos de roupa mas é a mesma merda!".
Pois bem, o lugar vale a visita, e certamente está entre os três melhores restaurantes japoneses de São Paulo, quiçá o primeiro na Kappo Cuisine. O jantar vale o preço? Talvez não, deixemos que cada um decida.
Pontos altos, o arroz do sushi, a taça com ovas, o atum selado com foie gras, a qualidade dos molhos de soja.
Pontos baixos? Sim, em todo lugar há de haver.
O primeiro deles, algumas vezes o serviço é atencioso além da conta, e um dos mâitres, o que nos apresentava os pratos, exagerava no "Senhores, agora vocês vão se emocionar!", emulando o chef, além de proferir diversos "meu deus" e onomatopéias como "zzzzzzzzzssssssssssss" e "huuuuuuuuuuuuum", o que às vezes é um pouco constrangedor. A culinária de Murakami é séria, cuidadosa e inventiva, fala por si só. Não necessita ser tão adjetivada.
Outro deles, o couvert é cobrado, mesmo sendo um menu de degustação de novo pratos. Seria melhor embutir no preço.
Por fim, logo no começo do serviço, antes de oferecer-se o cardápio, é oferecido um menu de degustação acompanhado da champagne Klugg, com preços em torno de R$ 600,00, meia garrafa, e R$ 1.000,00, a garrafa inteira. Alguns comensais mais endinherados - outros mais apressados - em ambos os casos sempre acompanhados de belas moças, acabam aceitando degustar os sushis com a champagne. Seria mais delicado oferecer primeiro o cardápio, depois os menus de degustação e por fim o menu de degustação acompanhado da champagne.
O Gourmet Incidental voltará ao Kinoshita em breve, para provar algumas iguarias do cardápio nem sempre fáceis de encontrar por aí mas que não saem da cabeça, como por exemplo o shishamo, o peixe ovado.
Esses pontos baixos não tiram os méritos do premiado restaurante, ao qual a visita é um evento único.


Kinoshita
Rua Jacques Félix, 405.
Vila Nova Conceição
Telefone (11) 3849-6940
http://www.restaurantekinoshita.com.br/


Nenhum comentário:

Postar um comentário